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O homem ideal.

junho 28, 2009

Numa overdose de mesmice fashion, cópias arquitetônicas da Balenciaga e etnias da Dior, só mesmo a moda masculina desfilada em Paris para salvar a minha verve nonsense de desejos comuns. Tendo em vista as coleções femininas desfiladas na SPFW e Fashion Rio, destaco o poder das saias transparentes de Maria Bonita Extra, os ombros volumosos de Alexandre Herchcovitch e zíperes partout na Huis Clos. Mas, ainda assim, muitas dessas peças viram fantasias na minha mente ululante, desejando que se tornem reais as expectativas de andar na rua e cruzar com uma mulher com as calcinhas à mostra e/ou cobertas por uma camiseta extra large rebordada de paetês.

Louis VuittonLouis Vuitton

Devaneios à parte, ando prestando muita atenção na moda masculina mesmo. E olha que isso é coisa rara, porque toda vez que um desfile começa eu nem consigo vê-lo até o final. Confesso que os homens me chamam mais a atenção que a roupa propriamente mostrada. Com o desfile da V.Rom foi ao contrário; olhei primeiro a alfaiataria, os brancos, os coletes. Depois é que fui enxergar as tatuagens do Matheus Verdelho (acreditem se quiser!)…

hermes 2Hermès

Mas a questão é que nenhum desfile me chamou tanto a atenção como o último da Louis Vuitton, desfilado na quinta-feira, 25.  Com uma profusão de shorts curtos (alô, alô Fábio Prado!) e calças com a barra virada propositalmente, deixando a meia aparecer com prazer _ Hermès também apostou na tendência.  As cores da LV são deliciosas, passeando entre amarelos gritantes e azuis confortáveis. Moda para um homem-dândi. Meu modelo de homem ideal. Mas, me diz, ele existe?

Louis Vuitton 3Louis VuittonLouis Vuitton 2

Se existe um, talvez não use skinny (Givenchy), adora um vestido-camisa  (Kris Van Assche) e usa sapatos estampados (Dries Van Noten). Além de se amarrar num belo foulard (Hermès) e usar casacos desabados e calças extra large (YSL).

dries van notenDries Van Noten

hermès detaislHermès

Louis Vuitton detailsLouis Vuitton

Imagens fortes não faltam na temporada pariense. E além de Louis Vuitton, Givenchy empolga com suas estrelas aparentes. Uma brincadeira fashion que pode até parecer ingrata, mas que ilumina as vistas de uma pessoa cansada de ver simples camisetas rasgadas na passarèlle! Gosto da idéia do tartan com dourados e das sandálias tacheadas, mas são os looks total white ou preto-e-branco que eu gosto mais. São mais fáceis, mais produtivos nessa nossa vibe anti-crise.

Givenchy 2GivenchyGivenchy

Descartando os sonhos, destaco agora o que é realmente desejável. Aposto em calças menos coladas ao corpo e camisetões. Além de acreditar piamente na força de sandálias masculinas. No mais, amo as proporções de Rick Owens (pena que minha altura não permite!) e a cartela de cores de Jean Paul Gaultier. Só acho uma pena não encontrar homens assim, tão bem vestidos, nas ruas.

Rick OwensRick Owens

jean paul gaultierJean Paul Gaultier

Fazer o quê? Nem tudo é perfeito!

por Daniel Amarhal
Fotos: Marcio Madeira para MenStyle

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SPFW: O importante é que emoções eu vivi!

junho 25, 2009

Não dá, tentei de todas as maneiras me ausentar da moda. Fugir pela tangente de um assunto que permeia a minha veia todo santo dia.
Confesso que fico triste, doente mesmo, quando um evento está acontecendo e eu não o acompanho. E não é diferente com o São Paulo Fashion Week.

André Lima

Lembro-me que as minhas primeiras passadas dentro da Bienal, onde acontece o evento, foram leves; era como se eu quisesse respirar cada segundo de moda naquele ambiente e sugar para meu cérebro todas as informações. Eu pagava micos homéricos (já dei presente para a Costanza e até escrevi uma cartinha para o Marcelo Sommer!!!) e nem me dava conta de que fazia papel de idiota.

Gloria Coelho

Mas o tempo, claro, passou. Ainda cumprimento algumas pessoas, faço tietagem com quem merece (Vitor Angelo, por exemplo!) e sorrio displicentemente para poucos (Patricia Cazé e Manu Carvalho são poços de educação!).

Daí que minhas unhas estavam prestes a sumir quando decidi visitar a 27ª edição do evento mais badalado da moda brasileira. Acompanhei todos os desfiles, vi todos os videos pela internet e me corroía por dentro, querendo estar lá respirando o mesmo ar que o Gil França e a Paula Reboredo (críticas sensatas de todos os desfiles, sem palpites exagerados, para o site de Erika Palomino).

V.Rom

Cheguei tímido no sábado e fui assistir Erika Ikezili. Do ponto de vista de um lojista eu olhava cada look e já imaginava uma vitrine, uma cliente da loja uÓ do borogodÓ (Multimarcas santista que vende as peças da estilista!) vestida com aqueles plissados, vestidos-origamis já tão famosos nas coleções de Erika. 

Erika Ikezili
Tendo em vista o olhar crítico de quem lê sobre moda desde os 13 anos (tenho 25!) eu repenso cada detalhe do desfile apresentado ao som do Yeah Yeah Yeahs, uma música classuda, diga-se. Bailarinas eram o tema da coleção e estas trajavam tecidos leves, golas plissadas e recortes muito bem pensados, mas que cansam as vistas de quem tem sede de novidades.

Erika Ikezili é profundamente ligada às suas raízes nipônicas e isso é visto a olho nu em suas peças. Mas daí transformar isso em ponto de partida para todas as coleções pesa um pouco. Claro que a estilista não pode de uma hora para outra trocar confetes por serpentina e querer, de repente, fazer malharia. Sua roupa tem a cara de sua cliente, mulheres antenadas. Mas, sei lá, anseio uma novidade que pode estar guardada na manga.
Desfile acabado, passeio rápido pela Bienal. Deixo as compras para o domingo.

Erika

Passada a sede de estar no Ibirapuera eu volto para o showroom da Dhuo. Fui trabalhar… buscar inspirações para textos que vão vir logo.

O domingo chega e a Bienal está mais cheia. Dia de Cavalera, Neon, Ronaldo Fraga. Acompanho uma amiga e apresento o mundo da moda à uma outra que escolheu o assunto como trabalho de conclusão de curso na faculdade de arquitetura. Curvas de Niemeyer e bordados de Lino Villaventura se dão as mãos.

Compro a revista Mag! e me deixo influenciar por cada foto, por cada editorial que dessa vez vem em DVD para assistirmos na TV; luxo dos luxos que chega a prender o ar.
Na pop-up store do evento são as obras do artista Mozart Fernandes que me enchem os olhos. Dá vontade de levar todos os seus trabalhos em carvão para casa. Sem contar que dá vontade de ficar horas e horas conversando com ele e sua escudeira fiel Monica. Dois artistas, dois seres lindos, duas almas iluminadas.

mozart fernandesEspaço Vértices na Pop Up Store, com obras de Mozart Fernandes
Foto: divulgação!

“Mas e os desfiles? O que você achou”? _  pergunta uma amiga.

Gostei de algumas coisas, me emocionei com outras e tenho receio de comentar sobre vários. Reinaldo Lourenço foi lindo. Osklen empolgou e Gloria encantou! Usei o Facebook durante os três primeiros dias e alfinetava sempre alguma coisa, caso do desfile desnecessário da Cia. Marítima e a nova coleção da Forum (sem) Tufi Duek que ainda guarda o ar do estilista. Já a Colcci dessa vez injetou um certo desejo, mas eu não gosto do jeans do final e nem da imagem de Gisele com faixa na cabeça.

Reinaldo Lourenço

Maria Bonita fez, sim, um desfile bonito. Mas, contrário a Gloria Kalil, acho o xadrez desnecessário no verão da marca. Quanto à Huis Clos, acho que se tivesse desfilado antes do feminino de Alexandre eu não teria visto as mesmas referências. Aliás, Herchcovitch deu banho de inovação e voltou a ser aquele estilista de que tanto gosto e trabalha o látex como ninguém. É claro que todo mundo que assistiu ao mise-en-scène ficou bestificado com a coleção e a trilha sonora que causava arrepios, mas que tinha um quê de Dolce & Gabbana, tinha!!!

Alexandre

Mas como o importante é que emoções eu vivi destaco o lindo desfile franco-cubano de Samuel Cirnansck. Teatral sem pesar, o nosso Galliano brasileiro trouxe o universo de Aleida Averhoff de la Riva para a passarela e misturou Edith Piaf e Marina de la Riva numa trilha de cortar os pulsos, obra de Jackson Araújo.

Marina de la Riva para Samuel Cirnansck

Assistindo ao desfile, custei a perceber que a própria Marina deslizava na passarela com um vestido curto e esvoaçante com estampa pincelada. Não sei se foi a emoção de ver minha musa ou Ne me quite pas rolando, mas me causou tanta emoção que até a fala eu perdi!

Samuel

Samuel pode ser tachado de cafona por fazer noivas e mostrá-las na passarela. Mas é um estilista que tem potencial criativo e sabe como transformar desejo em realidade. Depois de assistí-lo nem percebi as roupas de André Lima, ainda mais quando a voz de Bethânia me teletransportou para meu universo particular, onde só o que é arte salva. Fazer o quê? “Não vou mudar, esse caso não tem solução”!

Samuel noiva

por Daniel Amarhal
Fotos: Charles Naseh para Chic.